terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A Endometriose, o Sistema Imunológico e a Alimentação


Em meio às dificuldades em conciliar a vida moderna à uma alimentação saudável, nos vemos na busca constante de soluções. À nossa disposição em diferentes canais estão uma diversidade de pesquisas, programas inovadores e produtos que muitas vezes nos deixam perdidos, confusos. 

Nós do Alimento e Você concordamos, e por isso em 2015 publicaremos artigos com um roteiro de dicas que simplificará sua trajetória nesse caminho para uma alimentação saudável, sem milagres mas como muita consciência e atenção.

Motivos não lhe faltam. Cada dia é mais notório o imprescindível papel do bom Alimento na saúde e no bem-estar. Você verá que nunca é tarde para assumir o controle de sua vida por intermédio daquilo que ingere.  

Como bons humanos só nos sensibilizamos à mudança de hábito quando nos deparamos com o extremo da falta de saúde: a doença.

Elegemos assim falar neste primeiro artigo, de uma das doenças causadas pela queda do sistema imunológico, consequência da má alimentação e do estresse. A Endometriose, uma doença que atinge cerca de 15% das mulheres em idade reprodutiva. 

Vejamos o que diz o Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia sobre a Endometriose, o Sistema Imunológico e a Alimentação


A endometriose é uma doença caracterizada pela presença de tecido semelhante ao endométrio, com glândulas e estroma, fora da cavidade uterina. Além do quadro doloroso, pode levar, por diferentes mecanismos, à infertilidade, chegando a estar presente em cerca de 25% a 50% das mulheres inférteis.
A causa da endometriose é incerta, mas existem algumas teorias que tentam explicá-la. A mais difundida é a teoria da menstruação retrógrada (proposta por Sampson em 1921). Ela sugere a presença de fluxo menstrual retrógrado através das tubas uterinas e o implante e adesão destes fragmentos de endométrio no peritônio.
Entretanto, a menstruação retrógrada pode ser observada em até 90% das mulheres, mas nem todas desenvolvem a doença. Uma teoria para isso é que somente irão desenvolver a doença algumas mulheres que tenham uma alteração imunológica. Weed e Arguembourg (1980) foram os primeiros a sugerir um distúrbio imunológico para explicar a ocorrência da endometriose. A partir de então, muitos estudos a têm relacionado a alterações específicas da imunidadeEsta alteração diminuiria as chances do organismo em se defender de células de endométrio, que se implantariam nos tecidos e desenvolveriam a endometriose.

ALIMENTAÇÃO, MEIO AMBIENTE E HÁBITOS
A alimentação é importante para evitar várias doenças do corpo humano. O sistema imunológico também influencia diretamente no desenvolvimento das mesmas, podendo prejudicar principalmente as pessoas que moram em grandes cidades com alto grau de poluição atmosférica. 
A dioxina, por exemplo, é uma substância tóxica proveniente da combustão de produtos orgânicos e está presente no ar que respiramos e em alguns alimentos que ingerimos. Trabalhos científicos demonstram sua possível interferência no desenvolvimento da endometriose. Estes fatores em conjunto podem piorar a evolução da doença e, por isso, uma dieta balanceada e um estilo de vida adequado ajudam a prevenir o surgimento ou o agravamento deste problema de saúde. A endometriose é uma doença da mulher moderna e está relacionada com ansiedade, estresse e depressão, proveniente de uma exaustiva jornada de trabalho dentro e fora de casa. 
Diversas teorias relacionam o efeito positivo da alimentação sobre a progressão e a agressividade da endometriose. Essa relação ocorre porque a endometriose é uma doença estrogênio-dependente, o que significa que os níveis desse hormônio no organismo podem interferir na progressão da doença.
Visto que inúmeros alimentos e compostos químicos estão relacionados com a liberação estrogênica, é possível controlar parte dessa produção hormonal através de ajustes no padrão alimentar. Altas taxas de sucesso vêm sendo alcançadas com mudanças no comportamento alimentar e no estilo de vida para alívio dos sintomas causados pela endometriose. Diversos estudos relacionam a melhora das dores com algumas intervenções nutricionais pontuais, como: 

1 - Aumento na ingestão de líquidos e fibras 
As fibras ajudam na manutenção de um hábito intestinal adequado, o que pode reduzir as dores abdominais. Além disso, auxiliam na excreção fecal de estrógeno, diminuindo os níveis circulantes. A preferência deve ser dada a fibras solúveis (aveia e farelo de trigo). Outras fontes de fibras (porém insolúveis) são frutas com casca ou bagaço, vegetais folhosos e milho. 

2 - Substituir a ingestão de gorduras saturadas e monossaturadas por gorduras poli-insaturadas (ricas em ômega 3)
Gordura saturada está presente em carne vermelha, e leite e derivados. O ômega 3 está presente em peixes, frutos do mar, amêndoas, nozes e óleos vegetais (como canola, algodão, linhaça e oliva). Deve-se dar preferência para estes óleos no preparo dos alimentos no lugar da manteiga. O efeito na endometriose está no fato de que gorduras saturadas são ricas em ácido linoleico, que é convertido em ômega 6 e então em ácido araquidônico. Este está envolvido na produção de prostaglandinas, que são mediadores que aumentam o processo inflamatório, podendo agravar a endometriose. Por outro lado, o ômega 3 (ácido linolênico) é convertido em EPA (ácido graxo eicosapentaenoico), que diminui a reação inflamatória.

3 - Aumentar a ingestão de alimentos ricos em antioxidantes, como as vitaminas A, C, E, do complexo B e zinco. 
O processo inflamatório da endometriose leva à produção de radicais livres que desencadeiam uma série de respostas imunes e inflamatórias que levam a maior dano celular. Os antioxidantes podem ter um efeito protetor neste sentido. Eles estão em: 
vitamina A: tem ação no sistema imune e na diminuição do stress oxidativo. Seu principal precursor é o betacaroteno, presente em vegetais verde-escuros, amarelos e alaranjados (cenoura e abóbora) e frutas dessa cor (melão, mamão, manga); 
vitamina C: tem ação anti-histamínica (presente no processo inflamatório) e antioxidante. Seu precursor, o ácido ascórbico, está presente em frutas cítricas; 
vitamina E: além de efeito antioxidante, tem efeito analgésico. Encontrada em sementes de abóbora, vegetais verde-escuros, abacate, salmão e ovos; 
vitaminas do complexo B (B1, B6 e B12): apresentam enfeito analgésico e anti-inflamatório. Presentes em peixes como o salmão, ervilhas, feijão, semente de girassol, grão de bico e alimentos integrais; 
Zinco: protege as células contra radicais livres, é importante na absorção do betacaroteno e tem efeito anti-inflamatório, inibindo a liberação de histamina e outros mediadores. Presente em fígado, peixe, frutos do mar e ovos. 
4 - Reduzir o consumo de carne vermelha e aves, especialmente aquelas não orgânicas ou de procedência desconhecida, pois podem ter altas concentrações de substâncias hormonais ativas (como xenestrogênios), que podem agravar a endometriose 
As substâncias xenoestrogênicas quando em contato com o organismo, podem “confundir” os receptores celulares de estrógeno, interferindo nas respostas bioquímicas e aumentando a concentração desse hormônio que estimula o crescimento das células endometriais e, assim, torna-se responsável pelo agravamento dos quadros de dor na endometriose.
A gordura animal é um grande retentor de xenoestrogênios, assim como pode reter drogas veterinárias e hormônios, e portanto, deve-se ter cuidado com a procedência dos produtos de origem animal.
Alimentos de origem animal são a maior fonte de substâncias hormonalmente ativas, pois o tecido gorduroso e produtos à base de gordura animal, como leite e seus derivados, são grandes retentores de xenoestrogênios, bem como antibióticos, drogas veterinárias e hormônios para estímulo do crescimento. 
A administração de hormônios em animais de corte no Brasil, na maioria dos casos, não possui uma fiscalização muito efetiva, e frequentemente são encontradas doses superiores aos limites legais, e esse excesso é ingerido e armazenado no organismo via alimentação. 

5 - Diminuir e em alguns casos evitar o consumo de leite e seus derivados quando estes não forem orgânicos, devido às altas doses de hormônios presentes na gordura animal

6 - Evitar o consumo de alimentos industrializados, embutidos ou ultraprocessados, como frios, linguiça, salsicha, hambúrguer, biscoitos, pães e doces refinados, molhos e temperos prontos e preparações enlatadas
Muitos utilizam na sua produção gordura hidrogenada, que pode ter altas concentrações de xenoestrogênios, presentes também em produtos usados no processo de refinamento e conservação de tais alimentos. Embalagens plásticas podem conter bisfenol A, um importante xenostreogênio que pode ser absorvido pelos alimentos. Assim, algumas orientações nutricionais podem ser benéficas em pacientes com endometriose, tanto para minimizar a dor como para auxiliar no combate à progressão da doença. O papel exato e o impacto da dieta na endometriose ainda necessitam de mais estudos, mas melhorar alguns hábitos nutricionais ajuda a elevar a qualidade de vida da paciente. 
Quando está no organismo, o xenoestrogênio dificilmente é excretado e se acumula nos tecidos gordurosos, no cérebro, no aparelho reprodutor e em vários outros órgãos. 

Alimentos industrializados, produzidos com excesso de gordura hidrogenada, farinha e açúcar refinados, podem veicular altas doses de estrogênios sintéticos por possuírem em seu processo de industrialização muito desses compostos empregados no refinamento e na conservação de tais alimentos. Produtos industrializados também são armazenados em embalagens plásticas ou metálicas por um longo período, e esse processo favorece a absorção desses poluentes pelo alimento. 
O enrijecedor de plástico, também conhecido como bisfenol A – encontrado em substâncias plásticas como utensílios domésticos, potes, embalagens, mamadeiras, entre outras – foi descrito como “disruptor endócrino”, ou seja, substância química obtida pela alimentação ou do meio externo que age como “falso hormônio” no sistema endócrino, podendo causar alteração no funcionamento dos hormônios naturais, com prejuízo no funcionamento do sistema reprodutor. 
Quando está no organismo, o xenoestrogênio dificilmente é excretado e se acumula nos tecidos gordurosos, no cérebro, no aparelho reprodutor e em vários outros órgãos. 

RECOMENDAÇÕES DIETÉTICAS PARA ALÍVIO DA DOR
De acordo com os estudos na área sobre alimentos que potencialmente elevam os níveis de estrogênio, o médico americano Ori Hofmekler e autor do livro The anti estrogenic diet, ainda sem tradução no Brasil, afirma que é possível reduzir a exposição a esses hormônios modificando alguns hábitos e substituindo alguns alimentos da rotina. 
Segundo ele, o estrogênio em excesso no organismo pode provocar diversas reações como acúmulo excessivo de gordura, dificuldade para emagrecer, aumento do estresse oxidativo celular, agravamento do processo inflamatório e aumento de dor em processos de inflamação aguda, como nos casos de endometriose. Uma série de substâncias químicas produzidas pela indústria estão presentes em diferentes produtos do nosso uso diário. 
Alguns alimentos devem ser excluídos e outros priorizados no hábito alimentar de pessoas que buscam o controle da produção de estrógeno através da alimentação. 
Alimentos não orgânicos, carnes vermelhas, aves criadas em cativeiros, bebidas alcoólicas, doces, produtos industrializados e adoçantes artificiais devem ser fortemente evitados. 
Já os alimentos orgânicos, especialmente frutas e vegetais verde-escuros, peixes de água fria, cebola e alho, óleos vegetais, sementes de oleaginosas, como nozes e amêndoas, temperos naturais e alguns condimentos devem ser inseridos diariamente na rotina alimentar de pessoas que pretendem diminuir sua exposição aos compostos capazes de elevar os níveis de estrogênio. 
Vegetais verde-escuros (brócolis, couve-flor, couve-de-bruxelas e repolho): são considerados os alimentos mais importantes dentro de uma dieta antiestrogênica e anti-inflamatória. Esses vegetais possuem um composto químico denominado indol, que apresenta a capacidade de alterar o metabolismo do estrogênio e produzir efeito antioxidante benéfico sobre diferentes células do organismo. 
Linhaça, óleo de linhaça, óleos vegetais e peixes (criados na natureza, não em cativeiro): são excelentes fontes de ácidos graxos essenciais, também conhecidos como ômega 3, e parecem possuir a capacidade de equilibrar o metabolismo de estrogênio produzido pelo corpo. 
Alho e cebola: dois importantes alimentos antiestrogênicos, pois possuem a quercetina em suas composições, um importante antioxidante que parece inibir a ação de enzimas envolvidas na produção excessiva de estrógeno. 
Oleaginosas e sementes: estudos recentes relacionam o consumo desses grupos alimentares com o aumento dos níveis de progesterona no organismo feminino e testosterona no organismo masculino. 
Frutas, verduras, legumes e temperos naturais: acredita-se que esses alimentos podem fornecer nutrientes que ajudam a controlar a produção excessiva de estrogênio e, dessa forma, reduzir sua concentração sérica. 
Leites e seus derivados: esse grupo de alimentos também vem sendo amplamente estudado com o objetivo de avaliar seus efeitos benéficos sobre a produção de estrógeno. Além das suas qualidades nutricionais amplamente esclarecidas, encontram-se evidências de que o consumo regular desses alimentos possa controlar a síntese de estrogênio através de substâncias presentes na gordura desses alimentos. 
No entanto, esses efeitos somente podem ser garantidos em alimentos orgânicos, pois a presença de hormônios, o uso de antibióticos em animais criados em cativeiros e o emprego de pesticidas em frutas e vegetais podem diminuir os benefícios do consumo desses alimentos. 
Contudo, nenhuma abordagem nutricional pode ser desenvolvida para aliviar a dor pélvica completamente ou imediatamente, e recomenda-se que a dieta ou a suplementação sejam mantidas por um período mínimo de quatro meses. 
Por essas e todas as outras razões citadas anteriormente, faz-se necessário buscar um padrão alimentar que favoreça a ingestão adequada de nutrientes e o baixo consumo de alimentos carreadores desses compostos agressores. 
Fonte: Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi

Este é um artigo de suma importância para a mulher, especialmente para a "mulher moderna". A Endometriose não é considerada uma doença maligna, mas se comporta como um câncer, crescendo em volta de seus órgãos até infiltrá-los e na pior das hipóteses fazer com que os perca. 

Se você sente fortes cólicas e aumento do abdômen durante seu período menstrual, não espere, procure o médico. Peça um ultrassom endovaginal e caso haja mais suspeitas, uma ressonância magnética da pelve.  Esteja atenta às dicas de alimentação do Dr. Arnaldo neste artigo. 

Alerta para o Xenoestrogênio, uma substância química que por sua afinidade com o estrógeno se caracteriza como uma substância hormonal ativa e pode agravar a endometriose. Encontrado na proteína animal, alimentos industrializados, embutidos e ultraprocessados. Por isso a dica de redução de consumo desses alimentos.

Como vimos a boa e correta alimentação é chave para manter seu sistema imunológico forte e evitar doenças. 

Nessa sequência de artigos falaremos sobre a alimentação natural e a alimentação viva, grandes aliadas da saúde nestes tempos modernos onde a procedência dos alimentos e do que eles vem acompanhados não é tão confiável quanto no tempo de nossos avós. 

E na próxima semana traremos de "Os 10 mandamentos do Sistema Imunológico", contado a estória de Steve e o que passa no sistema imunológico dele enquanto enfrenta trânsito, trabalho, obrigações e lazer. 

Ótima semana, pensando sempre naquilo que você ingere. 

O que é seu Alimento hoje? Boa reflexão.


Jana Favato

Alimento e Você
@alimentoevoce
facebook.com/alimentoevoce