terça-feira, 16 de setembro de 2014

ENDOMETRIOSE: DIAGNÓSTICO

O que essa doença fez com corpo e mente?

Ouço falar nessa doença que não tem cura há pelo menos duas décadas. Primeiro minha irmã perdeu o útero, ovários, trompas e com eles a possibilidade de ser mãe naturalmente. Há pouco também fui diagnosticada. Embora tenham sido apenas 37 dias entre diagnóstico e a cirurgia de retirada dos focos, segundo os médicos eu convivia com ela há pelo menos cinco anos, tempo em que cresceu e tomou conta dos órgãos da pelve.

“Endometriose é uma doença caracterizada pela presença de endométrio fora do útero. O endométrio é a camada que reveste internamente a cavidade uterina e é renovado mensalmente por meio da descamação durante o fluxo menstrual. Em algumas situações este tecido, ao invés de ser eliminado, volta pelas trompas, alcança a cavidade pélvica e abdominal, gerando a endometriose. A doença pode acometer também os ovários, as tubas e outros órgãos como o intestino e a bexiga. As células do endométrio, na pelve, vão funcionar de forma semelhante as que estão revestindo o útero, isso quer dizer que elas vão "menstruar" também e, é essa menstruação no lugar errado que é responsável por grande parte dos sintomas da doença.” segundo Dr. Eduardo Shor.

Veja reportagem: 7 mulheres são operadas por dia em SP 

Numa visão mais prática – em meu entendimento, a endometriose é o refluxo da menstruação cujo tecido que deveria ser eliminado volta para o interior do corpo e se aloja externamente aos órgãos, formando inflamações que podem acometer seu devido funcionamento. Por esse motivo causa a infertilidade - ovários e trompas não conseguem seguir suas fases naturalmente - e em casos mais graves danifica o órgão à qual se acopla. Em meu caso 12 cm entre sigmoide e reto foram retirados, pois o volume de massa de endometriose na região retrouterina estava começando a comprimir o reto e já danificava algumas de suas paredes.

Neste post quero compartilhar como foi o diagnóstico, esperando ajudar mulheres – que como eu – nem imaginam ter uma doença tão agressiva. A endometriose é uma doença antiga, mas segundo especialistas por quais passei, os estudos que a decifram melhor são muito recentes, cerca de 6 anos para cá.





O DIAGNÓSTICO

Em Abril tive uma consulta de rotina na ginecologista. Com período atrasado em alguns dias e queixa de cólicas fora do período menstrual e fisgadas nos seios, a médica desconfiou de cistos no ovário e solicitou ultrassom de pelve.

Pausa para falar sobre nosso pobre sistema de saúde brasileiro. Tenho um bom convênio e não consegui vaga por 20 dias nos laboratórios de Belo Horizonte. Realizei o exame em São Paulo, cuja disponibilidade era para o dia seguinte.

Resultado do primeiro ultrassom de pelve foi 1 cisto de 3 cm em cada ovário, sendo o laudo  “cisto funcional”. A médica nem dissertou sobre o tema. Simplesmente disse “é normal” e que eu deveria voltar em 3 meses para acompanhamento.

Laudo do primeiro ultrassom

Entre abril e julho mais dores ainda. Por uma dessas coincidências da vida foi o período que conheci Yoga, me afastei de qualquer tipo de estresse, mudei minha alimentação e práticas gerais para melhorar a saúde mental e física e assim comecei a ouvir melhor meu corpo e a perceber que pequenas e diversas dores na região abdominal que sentia há pelo menos dois anos estavam presentes diariamente. À medida que me alimentava melhor e praticava yoga, fui emagrecendo, fortalecendo o corpo e tendo mais sensibilidade para todas as dores que possuía.

Aqui quero destacar o despreparo de alguns médicos. Como não estudamos medicina, precisamos de médicos com boas referências, ter muita curiosidade para buscar informações de fontes diversas e não nos contentar com uma única opinião. Eu fui a uma médica do convênio, da qual não tinha nenhuma recomendação.

Na primeira quinzena de julho ainda que insatisfeita com essa médica retornei, uma vez que era fácil conseguir uma consulta rápida e queria a guia para realizar novo ultrassom de pelve e encontrar um profissional mais preparado. Novamente o dilema do ultrassom de pelve em BH, dessa vez a espera era de 40 dias. Como eu sabia que não estava bem, mais que depressa fui para São Paulo para realiza-lo.

Segundo ultrassom, 3 meses mais tarde

Durante o ultrassom a médica me alertou sobre a situação, pois endometriose não pode ser diagnosticada através de exames isolados. Ela disse que havia mais cistos que em abril, especialmente no ovário direito, e que indicaria no laudo uma ressonância magnética e demais testes para um diagnóstico adequado. Tive a iniciativa de falar sobre a endometriose da minha irmã e ela disse que essa seria uma possibilidade, mas que o médico deveria solicitar exames complementares. Ela não disse que eu tinha a doença, mas seus olhos me disseram que havia algo muito errado.  

Desse minuto em diante comecei a ler sobre a doença. Ainda em SP pesquisei renomados médicos sobre o assunto. Existem portais elaborados por esses profissionais falam com detalhes quase tudo que você precisa saber sobre a endomentriosehttp://endometriosesp.com.br/,   http://www.endometriose.med.br/,  http://www.endometriose.net.br/

Por se tratar de doença complexa é preciso se consultar com quem tem experiência. Nas décadas anteriores muitos médicos simplesmente retiravam útero e ovários por não saberem tratá-la. Atualmente os especialistas em endometriose tratam a doença de acordo com seu estágio e a situação individual da paciente. Ou seja, se quer engravidar e tem a doença no estágio profundo, ele avaliará se tenta fertilização antes ou depois da cirurgia, de acordo com o risco que a doença está apresentando para sua saúde naquele momento.  

Retornei à BH novamente na mesma médica, pois consegui consulta para o dia seguinte e queria a guia para realizar a ressonância magnética. Fiz o ultrassom em SP na terça, na quinta a consulta com a médica e na sexta a ressonância magnética da pelve.

Vale dizer que retornando à médica em BH, ela disse que o resultado do ultrassom simplesmente “é normal”. Comecei a questionar sobre os sintomas que tinha e ela perguntou onde eu queria chegar. Disse a ela que eu queria investigar, que queria fazer a ressonância sugerida pela médica de SP, que seguia sentindo cólicas e formigamentos.

Guardem essa resposta, pois se para médicos essa situação é normal, imaginem para os pacientes que não tem ideia do que estão lidando: “ter cólicas no período menstrual é normal e ter cólicas no período de ovulação é natural. Por isso, essas dores e o resultado do ultrassom são normais”. Vejam que existem muitos ginecologistas que não reconhecem os sintomas da doença. O que agravava minha situação era a ausência de cólicas muito fortes, como a maioria das mulheres que tem a doença e chegam a ser hospitalizadas. Se nesse momento eu não insistisse em realizar a investigação, sabe lá o que poderia ter ocorrido.

Antes mesmo de fazer o exame, busquei recomendação de um profissional em endometriose em Belo Horizonte para iniciar o tratamento e marquei consulta para a semana seguinte.

Como já havia ligado para o laboratório e me informado sobre o preparo, dia seguinte encarei a ressonância magnética da pelve. Sendo assim, na sexta-feira dia 25/07/2014 ao final do exame, o médico veio até mim e me confirmou - sem sombra de dúvidas - que eu tenho endometriose, que ela estava no estágio mais avançado - profunda, e que acometia parte do intestino.

Ressonância - imagem de ovários em contraste, onde endometriose cobre os órgãos

Ressonância - imagem lateral esquerda útero, ovários, reto cobertos de endometriose

Embora após esse exame eu tenha passado por vários outros para detalhar e confirmar, esse foi o momento real do diagnóstico.

Quatro dias mais tarde peguei as imagens e o laudo e comecei a me ver por dentro, começando a entender as causas e localizar as dores que vinha sentindo. Comecei a ler ainda mais, agora sobre tratamentos.

Esse foi o momento do medo. Será que é só endometriose? Será que acometeu útero e ovários e terei que retirá-los? Será possível fertilização? Será antes ou depois da cirurgia? Será preciso cirurgia? O que será que causou essa doença?

E talvez a parte que tenha sido mais dura para mim. Nunca estive doente ou hospitalizada e sempre fui uma “realizadora”, graças à disposição e saúde. Por outro lado essa vida era regida pelo estresse, pela pressa e pela ansiedade... E descobri nesse momento que recentes estudos denominam a endometriose como “a doença da mulher moderna”, a executiva, que atrasa a maternidade, não se alimenta bem e é praticamente sedentária. Mensagem recebida e absorvida.

Esse foi o choque de realidade, muitos aprendizados viriam a partir daí. O post seguinte contará como foi o tratamento e um terceiro abordará pré e pós cirurgia.

Embora seja uma doença complexa e de certa forma misteriosa para os médicos, não penso nela com nenhuma espécie de sentimento ruim. É o endométrio que permite o alojamento do embrião na parede do útero (nidação). É ele também que, durante os primeiros meses de gravidez, permite a formação da placenta, que vai proporcionar, ao longo de toda a gestação, nutrientes, oxigênio, anticorpos, e outros elementos, bem como eliminar todos os produtos tóxicos resultantes do metabolismo, essencial à sobrevivência, saúde e desenvolvimento do novo ser. Ele se renova mensalmente para que isso ocorra, então ao final ele só quer colaborar com a geração de um novo ser humano. Aliás, toda a região da pelve existe com essa finalidade, e por terem tentado sem sucesso todo mês durante 24 anos, algo acabou saindo errado.

Escute seu corpo. Nunca pense que uma pequena dor é normal, sequer a dor de cabeça. Essa é a forma que nosso corpo nos avisa que algo não vai bem. Faça sua consulta periódica no ginecologista e não se contente com uma resposta "é normal" se você sentir que não é. A endometriose não é uma doença maligna, mas eu perdi 12cm de intestino, conheço que perdeu ovários, útero e trompas e outras que perderam parte da bexiga. A médica disse que ela pode atingir o pulmão e até o cérebro. 

Não brinque com essa doença que parece "normal". E lembre-se, ela não tem cura, mas você poder ter várias iniciativas diárias que evitem que ela consuma seus órgãos e lhe traga dores. É possível conviver com ela e a cada dia mais profissionais estão estudando-a para trazer tratamentos preventivos. 

Até breve!
Um abraço
Jana