terça-feira, 30 de setembro de 2014

A ENDOMETRIOSE: minha cura


Na tentativa de engravidar busquei um ginecologista em março deste ano. Devido a um atraso no período investiguei e fui diagnosticada com cistos nos ovários, os quais os médicos julgaram normais. Três meses mais tarde repeti o exame e os cistos não só continuavam como aumentaram. No final de julho ressonância da pelve diagnosticou Endometriose Intestinal Profunda, doença em seu estágio IV – o mais avançado.

Passei por quatro especialistas e ao final de 43 dias ocorreu a cirurgia. Uma especialista renomada que ao final não conseguiu passar um milésimo de seu conhecimento por estar mais preocupada em mostrar em quantos países havia se formado, uma proctologista extremamente competente e ocupada cujo sistema de atendimento é inviável, a ponto de não poder te curar a tempo e os dois anjos da guarda Dr. Fábio Lopes – proctologista e Dr. Joaquim Barcelos – ginecologista, que conheci por intermédio do meu cunhado médico, outro anjo, e que da primeira consulta aos exames diversos e a cirurgia resolveram o problema em apenas 14 dias.


 
A CIRURGIA

Entre consulta e cirurgia foram 10 dias de providências diversas para que realmente ocorresse. Os dois médicos – Ginecologista e Proctologista – estavam com férias marcadas e a única data que ambos tinham em sua agenda era 05 de setembro. Com o prognóstico não era possível esperar 30 dias para uma nova oportunidade.

Esse era o prazo para pegar a guia com o médico e submeter ao convênio, consultar com anestesista, submeter a colonoscopia, submeter-me à ressonância de abdome, fornecer amostra no banco de sangue, obter doadores de sangue, submeter-me à pré-internação no hospital, adquirir remédio manipulado para preparo intestinal, preparar corpo e mente para me submeter à cirurgia.

Doação de sangue: um desafio! Mobilizações diversas no Facebook, via e-mail, via telefone e quando ligava no hemocentro, nada. Até que três dias antes da cirurgia algumas pessoas se mobilizaram. Certamente alcançamos mais de 150 pessoas conhecidas com o apelo, mas apenas 4 pessoas compareceram. Difícil primeiro pelas exigências de saúde, eu mesma não poderei doar por um ano devido à cirurgia. Mas é difícil porque a gente nunca encontra tempo para “se doar” ao outro. Sei disso pois sempre me sensibilizei mas nunca doei.

Faltando 48h para o procedimento o convênio não autorizou a cirurgia! Pendente o hospital enviar orçamento de materiais para posterior análise. O hospital disse que provavelmente a falha era minha, pois eu não havia feito a consulta pré-internação, segundo o convênio eu faria apenas quando o procedimento fosse aprovado (imagina o estresse a qual fui submetida). Não diferente de todo o processo,  “quem não chora não mama”. De São Paulo Favato tentava falar com o convênio e daqui eu falava com o hospital. A supervisora de atendimento foi muito sensível e disse que eu faria o procedimento ainda que o convênio ainda não tivesse autorizado. Fui para casa e usei uma sabedoria que aprendi com meu professor de Yoga Artur Arya - “Entrego, confio, aceito e agradeço”.

Chegamos ao Felício Rocho às 7h30 do dia 05 de setembro, uma sexta-feira. O hospital havia enviado o orçamento e o convênio não o localizava. Sentamos na sala de internação e em posição de lótus fiquei até por volta de 10h quando um quarto do CTI foi liberado acompanhado por um funcionário do hospital, entramos. Identificada com uma pulseira fomos encaminhados para a sala de espera no bloco cirúrgico.

Em minutos uma funcionária do hospital chamada Maria me buscou e, ainda acompanhada de meu marido fui para o vestiário onde um short, camisola, descartáveis para pé e cabeça esperavam por mim. Vestida desses me despedi dele e nesse momento não sei qual de nós estava mais nervoso. Maria me me entregou outra camisola dobrada e meu envelope com os exames que havia feito até ali. O Felício Rocho é um hospital antigo, a sala que Maria me deixou ficava no corredor interno do bloco cirúrgico. Cadeiras de ferro, cadeiras de rodas e outros móveis compunham uma sala de azulejos verde claro em um ambiente literalmente frio.

Olhei para o envelope que carregava e reparei nos números. Em todos os momentos de minha vida os números 7 e 13 (juntos ou separados) fizeram companhia e sentido. Não poderia ser diferente dessa vez, aos 39 anos 3 meses e 7 dias estava pronta.


Outra enfermeira veio e segurando minha mão caminhamos até a sala de cirurgia ao lado de onde eu estava. Havia duas enfermeiras na sala e me cumprimentaram pelo nome, me deitaram e logo puseram um tubo aquecendo abaixo dos lençóis, pois a sala de cirurgia é fria como tem que ser. Eu tremia muito, acho que não apenas de frio...

Logo veio o médico anestesista brincalhão se apresentou e disse que esperavam ansiosos por mim. Em seguida entrou na sala o médico ginecologista que me operaria, Dr. Joaquim. Perguntei a ele se seria necessário retirar meu ovário direito, que sabíamos estava muito prejudicado. Ele disse que eu ficasse tranquila, que não retiraríamos nenhum órgão e, segurando minha mão, conversou comigo até a anestesia fazer efeito.

Momento de lembrança seguinte foi quando acordei ainda na sala de cirurgia, 6 horas mais tarde sentindo uma dor inexplicável. Cólica aumentada em umas 50 vezes e gritando de dor. O anestesista dizia que já havia injetado morfina que eu me acalmasse, via sombras de diversas pessoas me transportando para uma maca e sentindo essa dor infinita, ouvi uma das enfermeiras dizendo: “Vocês nunca sentiram dor de cólica, por isso não entendem”.

Ouvi na sequência a voz do meu marido no caminho. Estava ansiosa por esse momento, ver que eu havia sobrevivido sem complicações e poder reencontrá-lo. Sentia, no entanto, tanta dor nesses poucos segundos que passei pelo corredor para o CTI e só conseguia sinalizar com a mão para ninguém se aproximar. Ele insistiu e conseguiu entrar, mas eu não conseguia conversar e a dor me deixava irritada. Minutos depois a morfina finalmente começou a fazer efeito e chorando pedi a enfermeira que ligasse para ele, para poder me desculpar. De um pré-pago ela ligou e gastou seus créditos. Natalie era seu nome, nunca me esquecerei dela.

Passado esse momento me senti estranha, parecia que sairia do corpo. Estava sonolenta, mas com medo de dormir e não acordar mais. Não tinha coragem sequer de me tocar e descobrir quantos cortes eu tinha no adbome. Havia um relógio parado na sala e com a morfina fiquei confusa de que horas eram, quanto tempo havia passado, quanto tempo a cirurgia havia durado. Ganhava remédios, agulhadas e raio X de pulmão de tempos em tempos e não via a hora de amanhecer para ver Favato novamente, dizer que eu estava bem e viva.

Até então não sabia como havia sido a cirurgia. Foi então que apareceu Dr. Joaquim com uma aura quase visível e pegou novamente na minha mão dizendo que tudo havia corrido muito bem. Disse a ele que era um anjo, agradecendo-o. Ele me respondeu dizendo que anjos só aparecem para quem merece. Se era dia ou noite não sei, me senti confortada.

A médica de plantão me avisou mais tarde que iria para o quarto e por volta do meio dia Favato apareceu e junto com os enfermeiros me levaram para o apartamento. Dias se seguiram e foram um pouco tensos, pois os médicos acompanhavam meu progresso e colocam pequenas metas para que cumprisse diariamente: comer, evacuar e andar, nessa ordem. Nesse intervalo – remédio na veia, coleta diária de sangue, fisioterapia. Evoluí e no 5º dia recebi alta.



EM CASA

Com marido, mãe, Guapo e Lucy dormi a melhor noite de sono da vida. Começava outra etapa, de muito repouso, injeções diárias de anticoagulante no addome (por 30 dias) e entendimento do novo funcionamento do intestino que havia sido “reformado”, agora com apenas 1/3 do reto.

A cirurgia foi via laparoscopia - 5 furos - para limpar os focos dos ovários e útero. Para a limpeza e retirada de parte do intestino um corte de 12cm, tipo cesárea. Hoje, no 25º dia, os furos estão bem sequinhos e quase curados. O corte já é bem mais complexo. 

No 10º dia começou o vazamento do seroma, uma complicação normal que se baseia em um líquido que se acumula abaixo da pele e especialmente em cirurgias longas leva tempo para ser drenado. Ainda escorrendo dia a dia faço compressas de água quente, dois banhos quentes e higienização. Eventualmente precisei de remédios para dor, quando de alguma forma sinto a dor que tive na saída da cirurgia, provavelmente os órgãos se curando das feridas. Sinto melhoras da cicatrização e do organismo como um todo e respeito o tempo da recuperação sem forçar o addome. Alimentação saudável tem sido forte aliada.  

Nesse meio tempo tivemos a resposta da biopsia, confirmando endometriose e descartando qualquer outra enfermidade. 



Chego ao fim desse capítulo da vida sendo GRATA pelo que recebi. Desde pequenas concessões em horários de consulta, marcação de exames, mensagens e atitudes de amigos e família, doação de sangue, atendimento de enfermeiros, gentilezas, atenção, presença e demonstração de amor que pude presenciar de pelo menos 200 pessoas a meu redor. 

Qual objetivo da vida em nos trazer uma doença? Quais as causas da doença? Por que temos a oportunidade de adoecer e nos curar? Com essa atitude encontramos as respostas dessas e de quaisquer outras perguntas na vida:

“Entrego, confio, aceito e agradeço”.


Deixo meu contato pessoal para pessoas que queiram saber detalhes do meu processo com a endometriose: janafernandes@gmail.com. Será um prazer ajudar.


E novamente, obrigada a todos que estiveram comigo nessa jornada!
Jana